quarta-feira, 25 de março de 2015

O negócio da ilusão



Barbara Kruger ' We don't need another hero', 1987.

O que é a arte hoje? Talvez seja este um momento de reflectir sobre os propósitos da arte, sobre as audiências e sobre o que se dá a ver.


Assistimos a um momento em que a internet se abre aos artistas, tanto como via de divulgação dos seus trabalhos, mas também, como um negócio. Um mundo onde se abrem concursos ao minuto, onde em nome de promessas de exposições e divulgação, se promovem concursos semanais, em troca de inscrições a 15$ por cada imagem submetida. 


Assistimos, também, à divulgação de escolas e cursos de arte em publicidade online, e à quantidade de estudantes que pagam as suas licenciaturas e depois mestrados, e depois doutoramentos e até pós-doutoramentos, na esperança que o mercado se abra e que, os seus conceituados professores, os ajudem na inserção no meio. Os estudantes de arte investem na sua formação e na produção de trabalhos, pedindo empréstimos, e dependendo de bolsas. A propósito deste tema deixo o link para uma exposição Day after debt: a call for student loan relief, que tal como vem referido no post: "As of March 12, 2015, with just a month to go in the five-month exhibition, none of the art works had been sold." *

Por um lado temos por base uma democratização da arte, sustentada por concursos, onde a imagem assume o seu valor, despojada de um percurso, onde por vezes, nem um currículo é requisito. Mas convém perceber, que o outro lado, é a sustentabilidade de críticos e curadores. Todas estas estratégias de apoio ao artista não passam de um negócio. O artista é um peão nos novos meios online de sustentabilidade da arte. Usando a comum expressão emerging artists (que hoje se direcciona a um artista de qualquer idade) surgem-nos no google infinitas oportunidades: contests, awards, competition, call, submission, etc. 







Além de toda esta oferta, e, caso o artista se inscreva, continuará a receber via mail, ofertas aliciantes, enviadas, aparentemente, a título pessoal, de um dos membros da organização, onde surge escrito: "seleccionámos a sua imagem para uma exposição e pojecção em Nova Iorque". Pois é claro que anexado ao email surge um link. Para que o artista participe, basta criar uma conta pro, por mais 50$.



Havendo, então, tanta oferta, e tanta circulação de dinheiro, onde estão os novos artistas? E, acima de tudo, onde estão as novas propostas?
Já não se querem artistas, já não se querem imagens, já não se querem heróis. Querem-se números e quantidade.


E, afinal, neste meio tão vasto que é a internet, onde se publicam milhões de imagens ao segundo, será que a imagem se está a desgastar? Não será que se cria uma habituação do olhar? 


Se a internet pode ser uma importante arma de divulgação, esta pode ser também, altamente prejudicial, especialmente na desvalorização da fotografia e do vídeo, enquanto meio de expressão.


Será, com certeza, este o motivo para o retorno à pintura e à materialidade da obra que vemos nos museus, feiras e instituições, por todo o mundo. 


Inicio, então, este primeiro post (através da internet), questionando o papel da internet na arte, e a relevância das imagens e do percurso individual do artista, na actualidade.


Até breve,



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